quarta-feira, 2 de maio de 2012

Gelado

Na infância era costume passar o Verão na Beira-Baixa, em casa dos meus avós ou das minhas tias-avós. Na década de 1980, o comboio até à Covilhã demorava quase um dia inteiro. Numa dessas viagens de Agosto, acompanhado pelo meu irmão e pelas minhas tias-avós, lembro-me de o comboio fazer uma paragem mais prolongada, dando tempo aos passageiros para sair e comer qualquer coisa no bar da estação.
- Agora comem um gelado para se refrescarem - disse a minha tia.
E eu fiquei interiormente espantado, pois os meus pais nunca diriam aquelas palavras. Em casa um gelado era um luxo sem utilidade, que se tinha de pedir insistentemente, e apenas era concedido de forma espontânea em ocasiões especiais, em grande parte dependentes da arbitrariedade dos adultos. Um gelado «para refrescar» era uma coisa nunca antes vista. Fazia lembrar a história quase lendária de um miúdo da escola cujo médico lhe tinha recomendado a ingestão de gelados devido a um problema na garganta...