História de um encontro, da primeira vez que se olha para alguém, a canção vive da confusão entre «ver» e «ouvir». Da negação repetida de «I couldn't see» até ao belíssimo «Your voice was all that I heard». A voz de Bob Dylan a prolongar as sílabas das palavras. A indecisão entre as impressões de quem olha e as impressões de quem é olhado, que irá determinar a continuidade ou não do encontro. A insistência nas palavras, que, ditas, se sobrepõem, e se incrustam na visão. «I really did try to get close to you».
domingo, 16 de dezembro de 2012
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
domingo, 21 de outubro de 2012
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
sábado, 6 de outubro de 2012
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Pneuma
A maioria das pessoas não gosta de dias ventosos. Mas eu gosto muito. Tomo-o como uma evidência de que o espaço e o silêncio são habitados.
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
terça-feira, 14 de agosto de 2012
I see a darkness
« A vida humana passa-se toda na escuridão. E a única coisa que faz que haja luz e que, portanto, faz que haja sentido na vida, é o que um homem pode dizer a outro homem.»
segunda-feira, 30 de julho de 2012
La Tigre Assenza
pro patre e matre
Ahi che la Tigre
la Tigre Assenza,
o amati,
ha tutto divorato
di questo volto rivolto
a voi! La bocca sola
pura
prega ancora
voi: di pregare ancora
perché la Tigre,
la Tigre Assenza,
o amati,
non divori la bocca
e la preghiera...
Ahi che la Tigre
la Tigre Assenza,
o amati,
ha tutto divorato
di questo volto rivolto
a voi! La bocca sola
pura
prega ancora
voi: di pregare ancora
perché la Tigre,
la Tigre Assenza,
o amati,
non divori la bocca
e la preghiera...
domingo, 29 de julho de 2012
Home is so sad
Para o Ndalu
Podes imaginar outro país. Mas não será mais do que isso. Até podes imaginar um amigo. Alguém que esteja sentado no mesmo dia que tu e com as suas mãos toque os mesmos sonhos. Podes fazer tudo isso. Haverá sempre uma rua longínqua, uma hora geometricamente certa, meio-dia, muito calor, e a voz destroçada da Billie Holliday. Para te dizer que nunca chegarás.
segunda-feira, 21 de maio de 2012
José Gil
Para a Aida
O que é que a criança faz quando se identifica com um pássaro ou com uma árvore? Imagina que é um pássaro e voa? Projecta-se na árvore? Falta qualquer coisa a estes verbos. Não dão conta da experiência em causa. Separam demasiado o menino e o pássaro, o menino e a árvore, como se tudo se limitasse a um jogo de faz de conta, imaginado por um terceiro. Algo de mais profundo se passa: uma transmissão de micro-partículas entre o menino e a árvore, entre o menino e o pássaro. Linhas de fuga. Um devir-pássaro e um devir-árvore. Porque quando brinca a ser pássaro, a criança voa!
O que é que a criança faz quando se identifica com um pássaro ou com uma árvore? Imagina que é um pássaro e voa? Projecta-se na árvore? Falta qualquer coisa a estes verbos. Não dão conta da experiência em causa. Separam demasiado o menino e o pássaro, o menino e a árvore, como se tudo se limitasse a um jogo de faz de conta, imaginado por um terceiro. Algo de mais profundo se passa: uma transmissão de micro-partículas entre o menino e a árvore, entre o menino e o pássaro. Linhas de fuga. Um devir-pássaro e um devir-árvore. Porque quando brinca a ser pássaro, a criança voa!
sexta-feira, 4 de maio de 2012
quarta-feira, 2 de maio de 2012
Gelado
Na infância era costume passar o Verão na Beira-Baixa, em casa dos meus avós ou das minhas tias-avós. Na década de 1980, o comboio até à Covilhã demorava quase um dia inteiro. Numa dessas viagens de Agosto, acompanhado pelo meu irmão e pelas minhas tias-avós, lembro-me de o comboio fazer uma paragem mais prolongada, dando tempo aos passageiros para sair e comer qualquer coisa no bar da estação.
- Agora comem um gelado para se refrescarem - disse a minha tia.
E eu fiquei interiormente espantado, pois os meus pais nunca diriam aquelas palavras. Em casa um gelado era um luxo sem utilidade, que se tinha de pedir insistentemente, e apenas era concedido de forma espontânea em ocasiões especiais, em grande parte dependentes da arbitrariedade dos adultos. Um gelado «para refrescar» era uma coisa nunca antes vista. Fazia lembrar a história quase lendária de um miúdo da escola cujo médico lhe tinha recomendado a ingestão de gelados devido a um problema na garganta...
- Agora comem um gelado para se refrescarem - disse a minha tia.
E eu fiquei interiormente espantado, pois os meus pais nunca diriam aquelas palavras. Em casa um gelado era um luxo sem utilidade, que se tinha de pedir insistentemente, e apenas era concedido de forma espontânea em ocasiões especiais, em grande parte dependentes da arbitrariedade dos adultos. Um gelado «para refrescar» era uma coisa nunca antes vista. Fazia lembrar a história quase lendária de um miúdo da escola cujo médico lhe tinha recomendado a ingestão de gelados devido a um problema na garganta...
segunda-feira, 9 de abril de 2012
terça-feira, 6 de março de 2012
Rua dos Anjos, 76
Noite de Porto-Benfica. Na Almirante Reis, uma pequena multidão ocupa o passeio junto ao antigo cinema Império com os olhos postos no ecrã da televisão. As pessoas ocupam as ruas, como água que galga as margens do rio. Mesmo a comida é comida de rua, como a massa de 2 euros dos chineses do kebab ou as iscas à Ribeirão na Praça do Chile. "É bom?", pergunta o chinês com um sorriso. "É", respondo. "É muito bom".
domingo, 12 de fevereiro de 2012
O vendedor de ar
Já tentei inúmeras vezes comprar um pacote de lenços ao vagabundo que costuma estar no meu bairro, à porta do supermercado, mas sempre que faço tenção de o fazer e procuro uns trocos no porta-moedas ele vai-se embora. Não sei como consegue sobreviver, uma vez que já o vi fazer o mesmo a outras pessoas.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
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