quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O Palácio do Fim



Para a Daniela Ferreira

O teu rosto muito permeável enquanto víamos a peça de teatro. Imerso na atmosfera das personagens. Exposto à história como ao reflexo da luz do sol, ao vento, ou ao quase imperceptível rumor das folhas da palmeira imaginária no canto da sala. Enquanto a senhora árabe contava a história da sua vida, o teu rosto era mais transparente, concentrava a usura do tempo, a história da tua vida reflectida nela, como uma canção. O que faremos de todas as pessoas que me fazem a mim, e a ti? A senhora árabe, os filhos e o marido mortos por Saddam, os vizinhos, David Kelly, o cientista inglês, o taxista que grita na rua.  Lá fora, na Rua da Escola Politécnica, o teu rosto transparente cintila com a luz do que podia ser uma grande amizade. Ou um amor.