terça-feira, 8 de julho de 2014
Just another night
Para o L.
Mais uma noite só. Em casa, a ver o mundial. Sem ninguém que ecoe a minha alegria e tristeza, a não ser o espelho baço do ecrã e a voz do comentador. Talvez o Brasil ganhe, quem sabe? E vinte mil crianças saiam à rua. Ou mais, muito mais... Pelo menos alguns milhões. E nunca mais esqueçam este dia. E quando vierem as noites de solidão, as terríveis noites de solidão, aquelas em que nenhuma companhia é possível, saibam que ao menos um dia o pai sorriu com um golo e se foi deitar feliz. Ou não são as únicas alegrias verdadeiras as simples e quotidianas? De estar connosco quem nos ama. E sabê-lo.
quinta-feira, 15 de maio de 2014
Oisive jeunesse...
Para o João e para a Paula.
Para o Hugo.
Dos meus amigos da Faculdade ninguém acabou o curso... E a falta que eles me fazem. Alguns nem sei onde estão. Um é operário no Alentejo. O mais inteligente de nós.
Ainda me lembro das promessas que fazíamos, no café. Como um presságio, o café chamava-se "Até Amanhã" .
Disto tudo não ficou muita coisa. Um punhado de música, uma canção, a expectativa de uma rapariga que nunca chegou. E os subúrbios que terão sempre o vosso nome quando o comboio parte. A todas as horas.
Vocês fazem-me tanta falta...
Para o Hugo.
Dos meus amigos da Faculdade ninguém acabou o curso... E a falta que eles me fazem. Alguns nem sei onde estão. Um é operário no Alentejo. O mais inteligente de nós.
Ainda me lembro das promessas que fazíamos, no café. Como um presságio, o café chamava-se "Até Amanhã" .
Disto tudo não ficou muita coisa. Um punhado de música, uma canção, a expectativa de uma rapariga que nunca chegou. E os subúrbios que terão sempre o vosso nome quando o comboio parte. A todas as horas.
Vocês fazem-me tanta falta...
quarta-feira, 2 de abril de 2014
Telefonema
Para a Sandra.
Telefonar para um telemóvel ou para um telefone fixo são gestos diferentes. Não têm o mesmo significado. Telefonar para tua casa é visar uma morada e um conjunto de relações: a tua mãe, que atende por acaso o telefone, o teu filho, a quem dás o jantar, o teu marido, na sala ao lado.Telefonar de um telemóvel é visar uma voz sem corpo, isolada, atómica, sem localização precisa, que, quando muito, podemos tentar localizar por aproximação, em locais que podem ser desconhecidos, e que podem não ser verdadeiros, depende da sinceridade do interlocutor. Tão diferente de visar uma morada.
sábado, 11 de maio de 2013
Lisboa (1)
Para os meus pais
Não cresci em Lisboa. Apesar de Carcavelos ficar apenas a vinte minutos de comboio, o mundo de uma criança tem fronteiras muito apertadas. Ouvia falar da "Baixa" no início de cada novo ano lectivo, quando, chegada a lista de livros escolares, o meu pai me dizia que tinha de passar nas livrarias da Baixa. Mas era apenas uma palavra, sem vivências associadas. Outra palavra era "Estefânia", que a minha mãe às vezes mencionava, pois estive internado no Hospital quando tinha oito anos, mas que poucas imagens evoca. Por fim, havia o "jardim de Belém", junto ao Mosteiro dos Jerónimos, onde, segundo a lenda familiar, aprendi a andar.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Prayer for good humour
Grant me, O Lord, good digestion,
and also something to digest.
Grant me a healthy body, and
the necessary good humor to maintain it.
Grant me a simple soul that knows to
treasure all that is good and that
doesn’t frighten easily at the sight of evil,
but rather finds the means to put things
back in their place.
Give me a soul that knows not boredom,
grumblings, sighs and laments,
nor excess of stress, because of that
obstructing thing called “I.”
Grant me, O Lord, a sense of good humor.
Allow me the grace to be able to take a joke
to discover in life a bit of joy,
and to be able to share it with others.
St. Thomas More
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
O Palácio do Fim
Para a Daniela Ferreira
O teu rosto muito permeável enquanto víamos a peça de teatro. Imerso na atmosfera das personagens. Exposto à história como ao reflexo da luz do sol, ao vento, ou ao quase imperceptível rumor das folhas da palmeira imaginária no canto da sala. Enquanto a senhora árabe contava a história da sua vida, o teu rosto era mais transparente, concentrava a usura do tempo, a história da tua vida reflectida nela, como uma canção. O que faremos de todas as pessoas que me fazem a mim, e a ti? A senhora árabe, os filhos e o marido mortos por Saddam, os vizinhos, David Kelly, o cientista inglês, o taxista que grita na rua. Lá fora, na Rua da Escola Politécnica, o teu rosto transparente cintila com a luz do que podia ser uma grande amizade. Ou um amor.
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